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Por Aline Nicola, Rosane Bazi e Thais Daros:

“Tocar o barro é como tatear a síntese de um mundo cuja  duração não pode ser apreendida pelos nossos sentidos, diante da brevidade do nosso tempo de vida em relação ao universo”. (Instituto Tomie Ohtake)

O solo é sábio! Partindo dessa premissa conseguimos adentrar nas mais profundas camadas da sabedoria ancestral. O solo é ancestral, o barro, a argila, a terra, a lama são e estão anteriores mesmo à humanidade. 

O barro, a lama, nos contam a história de diferentes povos, diferentes formas de viver e estar no mundo. Como uma pessoa que tem registrada em seu corpo as marcas da vida, o solo tem impresso nele as marcas dos mais variados povos que já caminharam sobre a nossa terra.

O barro, se configurando ora como lama, traz a tradição dos povos, a forma de plantar e colher, traz as cores advindas das experiências da alma. Traz em sua matéria a temperatura do corpo daquele que o molda. Como um espelho, ele reflete o corpo, o movimento, cada gesto, de quem o toca, se faz um com o outro, se faz matéria diante a presença. 

Barro, lama… disparador da vida, sustento em forma de arte modelada, símbolo e tradição de povos milenares…

Do barro que vem a força, a vontade de fazer, a marca da presença neste mundo, o registro da transformação que acontece por meio da ação do homem, com e sem o homem.

Para as crianças, estar diante e em constante contato com essa matéria abre possibilidades para o fazer, o transformar, o agir. As mãos pequenas sentem a textura, o peso da lama, sua temperatura, sua moleza e em seguida sua rigidez. A criança impõe sua força, seu embate com aquela matéria orgânica viva que a confronta.

John Cage e Lois Long em seu livro:  Livro Da Lama, Como Fazer Tortas E Bolos, nos aproxima de todas essas oportunidades e intenções. Através de uma escrita suave, dinâmica e que traz a construção do fazer, lança a criança ao experimento. 

Com essas intenções com a experiência “Lama” seguiremos por caminhos concretos, seguros e ao mesmo tempo imaginários e místicos. 

“A criança, em contato com matérias primitivas, ao mesmo tempo em que experimenta e transfigura o mundo, repercute-o em si mesma”. (Gandhy Piorski – Brinquedos do chão. A natureza, o imaginário e o brincar.