Relato feito pela professora Gabriela Coppola – 5o ano E – 2020
Este é o relato de uma professora emocionada em tempos de pandemia.
A festa junina da Escola Comunitária não é só uma festa junina… é A FESTA JUNINA!
O trabalho voluntário de famílias da Comissão de Festas e a presença fundamental da equipe de funcionários são fundamentais para esse momento importantíssimo da vida em nossa Escola e as crianças, mesmo ficando cada vez mais restritas em seus espaços – em função das barracas que vão surgindo e compondo um novo cenário, juntamente com as bandeirinhas penduradas nos tetos dos corredores – vão sentindo aos poucos a mudança que precisa ser realizada para que possamos viver momentos tão especiais em nossas vidas. É um movimento de dentro para fora, que culmina na festa que mais agrega a comunidade da qual participamos.
Diante da angústia pela situação difícil de não podermos executá-la presencialmente, organizei com a professora Camila de Educação Física, uma proposta para que alunos e alunas dos 5os anos pudessem convidar suas famílias para vivenciarem este momento com aqueles com quem estão partilhando o distanciamento social. Seria diferente, mas ainda assim precioso.
No dia de preparação para esta proposta, os alunos e alunas chegaram ao Google Meet de um modo diferente dos outros dias. Ao invés de eu estar lá para dar boas vindas e ler a rotina, ao entrarem no encontro virtual, se depararam com músicas tradicionais da quadrilha e eu, como uma “caipirinha mestre de cerimônia” da turma que estava chegando… foi um susto maior do que levam quando a ponte quebra ou a cobra aparece no caminho para a roça.
Após o sobressalto, alguns sorriram e dançaram, outros chamaram os pais, outros coçaram a cabeça, não entendendo bem o que estava acontecendo e fui convidando, anunciando e felicitando quem estava entrando no arraiá da turma. Enquanto esperávamos os cinco minutos até o início da aula, sugeri que quem tivesse adereços acessíveis e pudesse pegá-los, que os colocasse para participarem da aula. Alguns foram rapidamente buscar chapéus, camisas xadrez e coletes com bandeirinhas, enquanto outro escrevia no chat que só ele não gostava da festa junina, outro que só curtia a comida, mas todos estavam visivelmente empolgados e com os olhos vidrados com aquele início diferente.
Quando chegou o horário previsto para o início da aula, comecei a ler a proposta que incitava as crianças à convidarem suas famílias para uma festa: fazendo convite, elaborando receitas, escutando a trilha sonora e decorando a casa, com sugestões de materiais em links para todas essas ideias que, apesar de não serem obrigatórias, envolvem o conteúdo do “Projeto de Classe: Construindo Caminhos: Quem somos nós?” interdisciplinarmente, pois a área de Educação Física também estava presente no arraiá, contribuindo com um vídeo sobre a história desta festa, que complementava o texto informativo lido pela turma, assim como orientações para os movimentos da quadrilha, que também foram sugestões para a festa em casa.
Conforme alguns alunos iam chegando após o horário de início esperado, fui colocando todos os atrasados na “cadeia” – uma brincadeira claramente compreendida, a ponto de um estudante que havia chegado antes do início da aula pedir para ir preso, o que na verdade não mudava em nada a nossa condição de sujeitos virtuais. Coordenadora e orientadora, convidadas tardiamente para o encontro, também foram devidamente encarceiradas.
Os “presos” só seriam liberados após o pagamento de uma prenda, que era a leitura de trechos dos textos ou a realização de comentários que complementavam as histórias sobre a festa. Logo algumas crianças ganharam o direito de libertar seus colegas e houve até quem conseguiu conquistar a própria liberdade, assim como aprendemos também no Projeto de Classe que acontecia com alguns escravos que coletavam ouro em Minas Gerais e conseguiam comprar sua própria alforria.
Sempre ouvindo estas relações e incitações que eram narradas por mim, a aula seguiu em ritmo de festa e aprendizagem, até ser concluída com a proposta de, caso a festa em casa seja realizada, compartilhemos uma imagem e relato orais deste momento com os colegas, alimentando e aquecendo os corações daqueles que pudessem participar e contribuir com esse momento que foi modificado pela “marvada e mardita Dona Pandemia”.
E assim, sigo com o desejo de produzir memórias felizes em um tempo inesperadamente assustador que nos envolveu em 2020. Ainda que pequenas, mantenho o desejo de que essas bolhinhas de boas surpresas, felicidade e esperança possam ultrapassar as barreiras do distanciamento que nos isola dos braços e abraços juninos.