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“aún está oscuro en la tierra,

pero es necesario sembrar.

La noche ya fue pasando,

la mañana va a llegar”

Madrugada Campesina- Thiago de Mello

 

O Projeto América Latina do ano de 2020 dialoga com o tempo presente. Entendemos que neste período de isolamento imposto pela pandemia do Covid-19 nossas construções conceituais e abordagens didáticas mobilizaram-se conforme este mesmo tempo nos convida. 

Os estudos acerca do território latino-americano fazem parte do trabalho desenvolvido com os estudantes em Geografia no oitavo ano. Em 2020 os domínios naturais latino-americanos e suas diferentes paisagens ganharam além de destaque nas aulas, lugares nas casas de nossos alunos e alunas.

Dentro desta temática o trabalho envolveu muita criatividade. Para que pudessem concretamente construir suas paisagens caseiras algumas perguntas foram fundamentais: É possível trazer para dentro de casa uma paisagem latino-americana? Posso representar esta paisagem com os materiais que possuo em casa? É possível que determinados objetos, por sua natureza, cor, forma ou na composição com outros objetos, me recorde os domínios naturais estudados nas aulas de geografia? Como representar clima, relevo, vegetação e uso dos territórios com objetos do cotidiano? O resultado consistiu na construção de suas paisagens caseiras.

A arte latino-americana é diversa como nossa paisagem, mas a história nos aproxima em muitos aspectos e isso se reflete nas obras dos diversos artistas contemporâneos.

A escolha de nosso repertório em Artes Visuais se deu a partir dos afetos desses dias diferentes, que nos conectaram de uma maneira mais próxima com o tempo, com a Natureza, com o cuidado e  com o alimento.

E impulsionados por esses  afetos, pelas urgências dos artistas e por questões multidisciplinares que se potencializam nessas escolhas, os alunos e alunas entraram em contato com diversos artistas que utilizam a Natureza e a paisagem como tema, como suporte, como matéria ou como metáfora.

Tivemos como elementos disparadores de criação, desde o olhar estrangeiro dos artistas viajantes em expedições nas Américas até experiências de artistas contemporâneos que envolvem-se com a Natureza pensando a paisagem como suporte, deslocando seus elementos, interagindo com ela, reorganizando-a. Esse é o caso de obras de “land-art” do brasileiro Marcelo Moscheta no Atacama ou do inglês Richard Long no Peru. 

São obras que lidam também com o tempo e a efemeridade. Assim como os “Re/tratos” do colombiano Oscar Muñoz, que nos fala  do desaparecimento ao  desenhar com água sobre a pedra, rostos de pessoas cujos destinos foram ceifados e apagados por contextos políticos.

Pétalas costuradas, mudas de plantas, arroz e feijão, ovos e bananas adquirem forte carga poética e metafórica na obra de artistas como a colombiana Doris Salcedo, a brasileira Ana Maria Maiolino, a argentina Marta Minujin e o brasileiro Antonio Henrique Amaral.

Para a argentina Estefania Gaviña é urgente pensarmos nas palavras do líder indígena, ambientalista e escritor  Ailton Krenak e lembrar-nos que somos todos também a Natureza, precisamos viver em harmonia e nos cuidar. 

Com a mesma urgência, Jorge Menna Barreto preocupa-se com a alimentação, desde o plantio à metabolização do alimento,  criando um restaurante-obra onde tudo é arte, até  mesmo o “pote paisagem” onde a comida é servida em camadas. 

Por fim, inspirados pela “Deriva Culinária na Patagônia” do artista brasileiro Fábio Tremonte,  pelas “Paisagens Comestíveis” da artista brasileira Ana Teixeira e por receitas típicas latino-americanas,  nosso projeto se encerra com um convite para celebrar a diversidade  por meio de uma refeição: a preparação e montagem de um prato de comida, que assim como a arte nos envolve de forma sensorial e efêmera.

O ponto de partida de nossa trajetória, nas aulas de História,  foi o estudo do Iluminismo como um movimento intelectual e filosófico nascido da Europa, fortemente presente no século XVIII e responsável por mudanças significativas em solo europeu e também latino-americano.

A partir daí, alunos e alunas foram estimulados a refletirem sobre  princípios revolucionários,  tais como liberdade, igualdade, fraternidade e a questão de direitos, constituída historicamente, tendo como campo de análise facetas do nosso mundo atual. Em que medida tais princípios são cumpridos ou descumpridos? Em que medida continuam sendo sementes plantadas por mãos que buscam um mundo mais justo, solidário, sustentável? Em equipes, coletaram dados, discutiram e elaboraram um vídeo com suas reflexões.

O vídeo da Mostra do Projeto América Latina é desenhado pela voz de nossos alunas e alunos a partir da poesia Madrugada Campesina de Thiago de Mello publicada em 1965. Em Espanhol os estudantes puderam, com a poesia, trabalhar a oralidade além de refletir acerca de questões como: Somos responsáveis por espalhar grãos pelo território fértil latino-americano? Se existem a madrugada e a escuridão, existem o amanhecer e a luz. Podemos simbolicamente compreender essa luz como algo que nos move e nos faz ter esperança?. Afinal, “está escuro, mas cantamos, e a manhã já vai chegar”.

Por fim, convidamos vocês para assistirem aos vídeos que ilustram este percurso e que representam a mostra do Projeto América Latina do ano de 2020. Clique aqui