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Por Clara Viana

Ontem, terça-feira (17), a Escola Comunitária promoveu uma roda de conversa com o tema “Adolescência: aprofundando o diálogo e estreitando as relações”. O evento contou com a participação da pedagoga e doutora em Educação Telma Vinha, e da psicóloga e psicanalista Marielle Kellermann, ex-aluna da ECC e mãe de estudantes da instituição.

O debate trouxe reflexões sobre os desafios enfrentados pelos adolescentes na atualidade, explorando suas interações no ambiente escolar e familiar. Além disso, foram analisados aspectos da narrativa da série Adolescência, produção da Netflix, cuja repercussão tem provocado discussões em âmbito internacional.

O primeiro momento do encontro foi conduzido por Telma Vinha, que também é professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e responsável pela coordenação de grupos de estudo sobre ética, diversidade e democracia na educação pública.

Telma deu início à conversa com base em estudos realizados por ela e por seu grupo de pesquisa, abordando a vivência dos estudantes no ambiente escolar, os fatores que contribuem para o bullying nesses espaços e a maneira como essa experiência de violência se manifesta também na internet, por meio de redes sociais e fóruns online, onde discursos de ódio e desafios perigosos se espalham.

A pedagoga destaca a escola como um ambiente que contribui para a promoção da escuta ativa para os jovens, o estímulo à empatia entre os estudantes e o incentivo à construção coletiva do conhecimento.

“O ambiente escolar representa um espaço essencial para a valorização das interações sociais e a cooperação entre colegas. Há diversas possibilidades para fortalecer esse aspecto. Inicialmente, é fundamental evitar aumentar ainda mais a pressão pelo êxito, assim como impor exigências excessivas a jovens que já lidam com expectativas elevadas. É necessário incentivar o cuidado entre pares, criar espaços de escuta como assembleias e rodas de diálogo, e oferecer acompanhamento individual sempre que necessário”, explicou. 

O segundo momento foi mediado pela psicanalista Marielle Kellermann, que abordou os sinais indicativos de que adolescentes possam estar enfrentando situações de bullying e cyberbullying ou se envolvendo em contextos perigosos no ambiente digital. 

Além disso, ela destacou a importância de as famílias estarem atentas a esses sinais e orientou sobre como oferecer apoio adequado. Sua palestra foi fundamentada tanto na experiência clínica com pacientes quanto no livro “A Geração Ansiosa”, do psicólogo americano Jonathan Haidt, que na obra apresenta dados alarmantes sobre o crescimento dos transtornos mentais entre crianças e adolescentes desde 2010 e explora o impacto do uso de redes sociais na ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos.

Em sua fala, a psicanalista orientou as famílias a acompanharem a adolescência de maneira mais atenta, cuidadosa e respeitosa. 

“Um aspecto importante é que as famílias reconheçam e tenham consciência de que o adolescente ainda não está plenamente desenvolvido, seja do ponto de vista emocional ou neurológico. Ele mantém traços infantis que precisam ser cuidados, ao mesmo tempo em que já é um indivíduo com opiniões e posicionamentos próprios. Além disso, a oposição aos pais, ou até mesmo a valores religiosos e aos grupos aos quais pertence faz parte do processo natural da adolescência”, concluiu. 

O evento fez parte das ações integradas da Escola e do Movimento OHLHAR (Onde Há Limites, Há Amor e Respeito) – uma iniciativa de um grupo de mães da ECC que tem o objetivo de reforçar o papel das famílias no controle e cuidado em relação ao uso de celulares, dispositivos eletrônicos e acesso às redes sociais por nossas crianças e adolescentes.