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Por Lilian R. N. Belo – Enfermeira- Supervisora Ambulatório Escola Comunitária de Campinas, Paola Brandalise Bettega, psicóloga clínica e especialista em Psicologia da Saúde e Hospitalar, Limerci Alamo – Coach de Yoga, especialista em Logoterapia e o Sentido da vida. 

 

Enquanto integrantes do Ambulatório em Saúde, área Saúde e Bem-Estar e Comissão de Saúde, participantes, observadores e pensadores sobre algumas rotinas nevrálgicas de nossa escola, nos debruçamos neste mês sobre o seguinte tema: o adoecimento da criança. E após esta reflexão, a muitas mãos, produzimos este texto. Para uns poderá ser um tanto inquietante, para outros trazer soluções, para outros somente a reflexão sobre um ponto de vista. 

Fato é que, no contexto dos dias atuais em que as demandas são crescentes, trazemos ao leitor a seguinte pergunta: além de cuidados com a saúde, agendamento ao médico, prescrição de remédios que possam remediar a doença, vacinação, o que mais podemos oferecer aos nossos filhos?  Sem trazer à tona a culpa, nem aumentar a sobrecarga inerente aos dias corridos, mas sim, voltar a trazer o sentimento de responsabilidade, a necessidade de pequenas pausas para ouvir, desacelerar o passo e ressaltar como é importante o acolhimento da criança num momento de vulnerabilidade. Momento este que, por vezes, para nós adultos, pode “não parecer grande coisa”, como uma simples gripe, a irritação nos olhos, dores de garganta, indisposições ou … outros sintomas comuns ao dia a dia infantil.

Em meio à correria da rotina diária, dos compromissos incessantes que temos, este olhar para a fragilidade da criança passa desapercebido ou acaba sendo minimizado com o pensamento de “é só dar um analgésico que a dor vai passar”. Mas que dor é essa que a criança está sentindo, poucas vezes paramos para nos perguntar. Será que paramos para nos perguntar sobre nossas próprias dores também? E o mesmo pode ocorrer em relação aos nossos filhos, não é mesmo? Qual foi a última vez que você se perguntou sobre qual é o sentido da dor que você mesma(o) está sentindo. O que está acontecendo na vida naquele determinado momento?

Esperamos que este texto traga além da reflexão, também possíveis mudanças de comportamento de nós enquanto pessoas humanas, pais, professores e cuidadores de crianças. Trazendo à luz, a consciência do quanto é importante a escuta, o colo, o acolhimento, as pausas e o tempo que temos junto as crianças, e o quanto elas levam da infância para a vida adulta como referência de apoio para os momentos mais sensíveis da vida.

Rosely Sayão, no texto publicado em 2011, intitulado A criança doente quer, (Sayão, R.  Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio, acesso em 27 de março de 2023) “ressalta a importância de que além de remédios e cuidados, filhos doentes precisam da serenidade e paciência dos pais”.  Com a doença, seja ela da mais simples à mais complexa, nos adverte sobre as sensações não agradáveis de se conviver com a insegurança, o medo, o sentimento de desamparo e a inquietação de alguns sentimentos e emoções que até mesmo os adultos chegam a compartilhar.  Assim, além de seguirmos todos os protocolos, sugere que deveríamos incluir nos receituários as seguintes palavras: serenidade, firmeza, paciência e colo. Se conseguir ler este texto, vale a reflexão.

O colo, referido no texto, entendemos aqui como a habilidade de levarmos aquele ser amado a outras paisagens, seja através de uma música, de um filme, de uma história, ou até mesmo quando relembramos com elas algo já vivido. Viktor Frankl (1905-1997), psiquiatra e neurologista austríaco desenvolveu uma técnica nomeada de derreflexão, algo próprio somente da natureza humana, o auto distanciamento, um meio de deslocar a atenção do presente ou de um fato, tentando diminuir a reflexão sobre este. (Alvef, Glossário. Disponível em www.logoterapiaonline.com.br/glossario, acesso em 27 de março de 2023) Uma técnica que podemos utilizar como parte da estratégia de um possível acolhimento e relaxamento com crianças e adultos. 

Para os pais que trabalham, outra possibilidade é utilizar bilhetes escritos a mão, deixados sobre a mesa, mensagens de áudio, imagens visuais ou escritas. A criatividade não tem limites e é um ótimo remédio para aumentar a autoestima, a confiança, sensação de pertencimento e a imunidade de crianças, dos adultos, e até mesmo de idosos de todas as nacionalidades, cores e tipos, uma técnica que abrange a diversidade, não excluindo ninguém.